Com uma apresentação para 60 mil pessoas no estádio do Morumbi, na noite de terça-feira (3/4), Roger Waters encerrou a turnê brasileira, que passou por outras duas capitais.
O show “The Wall Live”, que executa na íntegra as canções do disco homônimo lançado em 1979 pelo Pink Floyd, ex-banda de Waters, teve início às 21h se estendeu por mais de duas horas.
O cenário, um muro gigantesco, com parte móvel e onde são exibidas projeções, arrebatou a plateia.
Junte-se a isso imensos personagens infláveis do disco, como um porco e figuras disformes que pairam sobre a estádio, um avião que se abate contra o muro, laser, fogos e tem-se um público embasbacado diante de tanta riqueza visual e sonora.
No palco, Waters e banda se exibiram afiados e afinados. Não à toa. O show em São Paulo foi o 191º da turnê, que teve início em 2010. Tempo de sobra para não deixar que uma nota sequer de cada solo ou virada de bateria esteja fora do lugar.
Mas, dividido em duas partes, como o disco duplo originalmente lançado, o show perdeu um tanto de força pela previsibilidade.
“Another Brick In The Wall”, o maior sucesso da carreira do Pink Floyd, obra e graça de Waters, inflamou a plateia no começo da primeira metade.
É de se imaginar o que aconteceria se a canção encerrasse o concerto. No mínimo, mais do fôlego com que se berrou cada estrofe e refrão. A música teve ainda a participação de crianças do coro do Instituto Baccarelli, de São Paulo.
Em português claudicante, Waters saudou os brasileiros, dedicou o show a Jean Charles de Menezes, morto em 2005 pela polícia britânica, e conclamou todos a lutarem contra arbítrios e buscarem justiça.
Foi na primeira metade do show, aliás, que se concentraram as melhores intervenções visuais no muro, construído música a música.
Destas, se destacaram sobretudo “Mother”, “Hey You”, “Confortably Numb” e Run Like Hell”.
De resto, ‘The Wall Live” foi um espetáculo grandioso, visualmente impactante, que passa em revista um disco clássico para a história do rock. Mas ainda assim não conseguiu esconder alguns aspectos, digamos, desabonadores da obra.
A megalomania de Waters não raro soou repetitiva, se aproximando perigosamente da cafonice. É aquilo um espetáculo da Broadway ou um show de rock?
Com um pouco mais de condescendência e afetividade pelo disco, pode-se dizer que foi o rumo natural para a música do baixista, cantor e compositor: a grandiosidade.
De certa forma, é uma maneira vigorosa de encerrar a carreira. Waters, que tem 68 anos, anunciou recentemente que pretende se aposentar dos palcos em breve.
Até lá muitos fãs terão se encantado, como aconteceu no Morumbi, com o universo que ele, megalomaníaco, criou para adornar a própria música.
DETALHES
– O porco gigante e inflável que paira sobre a plateia teve, no show de hoje, palavras de ordem pintadas pela dupla de grafiteiros OsGêmeos. Nele, podiam ser lidas frases como “Ocupem as ruas”, “Brasil, paraíso para a corrupção e a impunidade” e “Parem o Senado”.
– Durante o intervalo de 20 minutos do show, são exibidas no muro fichas de pessoas mortas arbitrariamente, em guerras, conflitos e ações de regimes de exceção. Dentre elas, estavam o brasileiro Jean Charles de Menezes e até o poeta espanhol Federico García Lorca.
– A banda que acompanha Roger Waters tem nomes que mereciam mais destaque. Não é todo dia que se excursiona com músicos como o guitarrista Snowy White (ex-Thin Lizzy), o também guitarrista G. E. Smith (ex-Hall & Oates e ex-diretor musical do “Saturday Night Live”) e o pianista Harry Waters (ex-Marianne Faithfull).
Fonte: Folha.com