Poucos minutos antes da abertura dos portões, tudo seguia como esperado ao redor do estádio do Morumbi. Jovens em vigília há dias se punham de pé e em fila na esperança de conseguir o melhor lugar possível na plateia, camelôs agitavam e vendiam souvenirs e ambulantes hidratavam gargantas sedentas para botar de vez suas vozes para fora. Do lado de dentro, no entanto, uma grande diferença se impunha: uma monumental estrutura de palco fincando suas quatro enormes garras no gramado. Era o sinal e o símbolo da dominação global que o U2 comanda desde 2009 com a turnê “360°”, que depois de circular por 30 países aterrissou em São Paulo neste sábado. O grupo fará mais duas apresentações na cidade: uma neste domingo e outra na quarta-feira.
Eram 21h30m quando os ponteiros de um relógio estampado num telão foram para os ares, indicando o que todos aguardavam desde a última apresentação da banda no país, em 2006. Logo depois, o sistema de som que fazia ecoar pelo estádio “Space oddity”, de David Bowie, se calou. As luzes se apagaram, e um imenso telão cilíndrico formado por painéis interligados de LED revelaram Bono Vox, The Edge, Adam Clayton e Larry Mullen Jr. caminhando para o palco. A postos, atacaram com “Even better than the real thing”, do álbum “Achtung baby” (1991), emendando com “I will follow”, primeira faixa e single do álbum de estreia do grupo, “Boy” (1980). Logo depois, os riffs pesados e dançantes de “Get on your boots” se juntaram aos solos sensuais e nostálgicos criados por The Edge para “Magnificent”, um dos destaques do último disco do grupo, “No line on the horizon” (2009).
Daí para frente teve de tudo que um show do U2 oferece como arte e entretenimento, lição de vida e de business: Bono se debatendo no ar, cantando no chão, se pendurando num cabo de aço, chamando uma menina da plateia e pedindo que ela lesse um trecho de “Carinhoso”, de Pixinguinha e com letra de Braguinha, assim como suas corridas olímpicas pela pista circular que envolve o palco entoando hits como “Elevation”, “Vertigo””, “Mysterious ways” e “I still haven’t found what I’m looking for”, pinçada da máquina de hits “The Joshua tree” (1987) – o álbum mais vendido da banda, com mais de 25 milhões de cópias ao redor do globo, rendeu ainda “Where the streets have on name” e “With or without you”.
O ativismo político e social também esteve presente no show, fosse nos telões com imagens de guerra para ilustrar clássicos como “Sunday bloody sunday”, como também no discurso de Bono, que prestou um tributo a líder opositora birmanesa e prêmio Nobel da Paz Aung San Suu Kyi, lembrou do encontro que teve com a presidente Dilma Rousseff ao longo da última semana, em Brasília, e homenageou as vítimas do atentado ocorrido na escola Escola Municipal Tasso de Silveira, em Realengo, com a bela “Moment of surrender”, tirada de “No line on the horizon” (2009).
Em duas horas de apresentação, o grupo tocou 23 músicas. E mostrou que o poder de fogo no palco continua tão intacto quanto a facilidade em fazer com que as suas novas canções soem instantaneamentge como antigos clássicos. Numa noite que teve como show de abertura o poderoso trio Muse, o U2 mostrou entrega e profissionalismo em igual medida, equação que sustenta uma performance irrepreensível e uma banda que ainda tem fôlego de sobra para se manter no topo do universo da música pop.
Fonte: O Globo