Moradores do Morumbi veem Copa no bairro como ‘mal necessário’

A possibilidade de o estádio do Morumbi, na Zona Sul de São Paulo, não ser a sede paulista da Copa do Mundo de 2014 afeta de maneira diferente quem mora e trabalha no bairro de mesmo nome e em suas imediações. Aqueles que não gostam do barulho e da bagunça trazidos pelos jogos de futebol comemoram secretamente o veto da Fifa ao estádio do São Paulo Futebol Clube. A melhoria na infraestrutura do bairro e a ausência de estádios em melhores condições para receber os jogos, entretanto, fazem a Copa no Morumbi ser vista pela maioria como um “mal necessário”.

O prefeito Gilberto Kassab, que viajou para a África do Sul, disse que o estádio ainda é a primeira opção de São Paulo e que irá pedir a reavaliação dele. Além disso, um relatório da Cetesb aponta contaminação em uma área em Piritiuba, considerada uma alternativa para a construção de uma arena para a competição.

Dono de uma padaria e morador do Morumbi, o empresário Gilberto Gonçalves Franck, de 39 anos, diz que seu lado comerciante se vê um pouco decepcionado com a possibilidade de mudança, mas sua “pessoa física” fica um pouco aliviada com a possibilidade de distância dos jogos.

“Para a padaria seria ótimo que os jogos fossem aqui. Poderíamos vender muito, não apenas nos jogos, mas nos outros dias também, com uma concentração de torcedores, que sempre precisam comer. E o evento também poderia atrair pessoas que normalmente não vinham para o bairro, e passem a frequentá-lo depois”, conta ele. “Sem a Copa a gente perde esse ganho, mas seria apenas por um mês. Como morador fico mais dividido, tenho medo da bagunça, do trânsito, não vou conseguir sair de casa.”

A realização de partidas no estádio era dada como certa até a Fifa desistir do local por falta de garantias financeiras para a realização da reforma necessária. Após o veto ao Morumbi, foi cogitada a possibilidade de ser construída uma nova arena em Pirituba. Tanto o governo do estado quando a Prefeitura de São Paulo, entretanto, negam as intenções de construir um novo estádio.

A possível mudança de sede desanima quem já se programava para aproveitar a proximidade de casa com o estádio. “Ia ser bom ter os jogos aqui perto, vivenciar a experiência. Meus filhos já estavam empolgados com a possibilidade. E para trazer a Copa iam embelezar o bairro, apressar o novo Metrô, valorizando os imóveis. Tomara que isso ainda aconteça”, disse a dona de casa Maria das Graças Félix Soares, de 44 anos.



Investimentos

O maior medo do bairro é que a transferência da sede paulista breque os investimentos no bairro – como a linha de Metrô que pretende ligar o aeroporto de Congonhas ao estádio e a construção de estacionamentos subterrâneos (a estação São Paulo-Morumbi da Linha 4 do Metrô já está sendo construída e deve ser inaugurada em 2012). Representante de parte dos moradores da região, Jorge Eduardo de Souza, presidente da Sociedade Amigos do Morumbi e Vila Suzana (Samovis), acredita que esses investimentos serão mantidos. “Tivemos uma garantia do poder público de que as obras serão mantidas.”

Moradora do Morumbi há 54 anos, a psicóloga Rosali Feliano Romeiro Penteado acredita que as melhorias podem chegar de maneira mais lenta sem a Copa, mas não duvida que elas serão feitas. “É uma necessidade do bairro, a infraestrutura já está sendo montada”, afirmou.

Bagunça

O principal argumento entre quem não quer os jogos da Copa no Morumbi é a proximidade do estádio a residências, comércios e até a um hospital, o que traz muitos transtornos antes, durante e depois das partidas. “As casas próximas sofrem muita depredação, os carros param na frente das garagens, tem muita sujeira, brigas. Mas fazer em Pirituba vai ser complicado, lá não tem Metrô, vias de acesso fáceis. Não vejo como São Paulo ficar de fora da abertura de um campeonato tão importante, e não vejo espaço mais adequado do que o Morumbi”, diz Souza.

A opinião é corroborada pela psicóloga Rosali. “Eu acho um absurdo não ser aqui. Bagunça sempre tem quando tem jogo, tem evento, mas tudo bem administrado não tem problema. Engrandece o bairro, engrandece a cidade. Não tem como São Paulo ficar de fora, e aqui temos hotéis bons ao redor, já temos um metrô e vai chegar outro, temos estrutura. Vai colocar em Pirituba, onde não tem?”

Sócio do São Paulo Futebol Clube, o presidente da Samovis acredita que o estádio será renovado com ou sem a participação na Copa – por isso, de qualquer maneira, a transformação no local em uma arena vai ocorrer e vai atrair mais eventos. “Não temos alternativa. Para fazer um jogo de Copa do Mundo tem que ser em um lugar com conforto, com acesso fácil ao Centro. Com o Metrô teremos isso aqui. Em um dia de jogo, mais de 100 mil pessoas vão atravessar a cidade em um curto intervalo de tempo”, afirmou. “Como morador, não estou tão satisfeito, mas como paulistano sei que é a melhor alternativa.”

Fonte: G1





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