Com disposição física e memória de uma garota de 20 anos, uma senhora resolveu trocar os filmes, novelas e programas femininos vespertinos por aulas de pintura. Às vezes, por conta das sessões de fisioterapia, chega atrasada à aula, ministrada geralmente duas vezes por semana por um professor de pintura que conta com uma turma de cerca de 10 alunos. O ambiente colorido e iluminado ganha vida com a música erudita, usada para iniciar o processo de sensibilização da atividade.
O aconchegante cenário faz parte da rotina dos frequentadores e moradores do Hiléa, centro de vivência para a maturidade no Morumbi, na zona Sul de são Paulo, que têm idades entre 60 e 93 anos. Muitos desconheciam o talento para a pintura e hoje até recebem encomendas para vender as ‘obras-de-arte’. “Faço aulas de pintura há um ano e não tinha ideia de que pintaria um dia na vida. Claro que não tenho a intenção de me profissionalizar, mesmo assim recebo encomendas, faço e presenteio com o maior prazer”, conta dona Elvira Barbosa Salles, de 66 anos.
“Não acredito que na escola eu não fazia nada de arte e hoje, velha, eu faço. Olho para minha pintura e pergunto para mim: “Será que foi eu quem fez? Eu sou boa ainda para alguma coisa. No ateliê a gente ganha autossuficiência. Tenho percebido que na arte a gente usa a memória, a inteligência e isso tem sentido”, comenta uma das alunas do grupo, que preferiu não se identificar, mas revela ter 86 anos.
De acordo com Eduardo Valarelli, artista plástico e coordenador das atividades artísticas do Hiléa, os olhos dos alunos brilham a cada etapa proposta por ele.”O diferencial da nossa proposta é ter a arte como um pilar e fazer com que eles percebam que podem ser autores e protagonistas. Trabalhamos com uma metodologia em conjunto, tanto o educador como os alunos”, explica.