Dois rapazes cercam um carro na fila do sinal no Ladeirão, na rua Doutor Francisco Tomás de Carvalho, perto da avenida Giovanni Gronchi, no Morumbi. Levam a bolsa, mas esquecem o smartphone. Em menos de um minuto, a rede de amigos da vítima é avisada do assalto.
A cena é usada como exemplo em reuniões de moradores para discutir o uso de um aplicativo que chega como um “sinal de alerta” em meio à violência no Morumbi.
Nos próximos 15 dias, um projeto começará a ser implantado no Portal do Morumbi. Vai estimular moradores e funcionários de condomínios a criarem uma rede de vigilantes via smartphones e computadores.
O programa avisa, por exemplo, quando um usuário está em perigo ou quando alguém “suspeito” está por perto –existe até a opção “andarilho ou pedinte” para comunicar um “problema público”.
O objetivo é criar uma vigilância comunitária: a notícia cai na rede e logo se espalha pela vizinhança do bairro.
Entre as opções de alerta, dá para enviar no “pedido de socorro” detalhes e foto de um assalto ou acidente.
Graças ao GPS, o local aparece no celular e no computador dos seguidores.
Imagine um sequestro ou um arrastão no condomínio. Nesse caso, recomenda-se o uso do modo “pânico silencioso”, concebido para situações de coação. Depois de a mensagem ser enviada, o celular voltará automaticamente para a tela inicial, sem “dar bandeira”.
“Num estágio avançado, a intenção é englobar, além de moradores e porteiros, empresas de segurança no bairro Morumbi, Consegs e até a PM”, conta Celso Neves Cavallini, 68, presidente do Conseg (Conselho Comunitário de Segurança) do Portal do Morumbi.
ABRANGÊNCIA
O projeto também foi incorporado pela Samovis (Sociedade Amigos do Morumbi e da Vila Suzana). Nos 360 condomínios envolvidos, com cerca de 100 mil moradores, discute-se a possibilidade de os próprios condôminos bancarem a compra de smartphones para os porteiros.
Com base nas parcerias firmadas, Sérgio Paim, 41, presidente da Agentto –empresa que desenvolveu o programa–, espera que em 45 dias cerca de 50 mil paulistanos baixem o aplicativo, que é gratuito. A Polícia Militar da cidade de Uberaba e o Procon de Uberlândia já são “protetores registrados na rede”, diz.
Paim explica que o lucro da empresa vem de duas formas: de companhias de segurança que podem vender o serviço e do monitoramento de equipes de campo que atuam para pequenos comércios, como entregadores de pizza. Em ambos, parte da receita vai para a Agentto.
Cientista político, ex-subsecretário nacional de Segurança, Guaracy Mingardi diz que o uso do aplicativo é apenas uma medida paliativa.
“Moradores dos condomínios entram e saem de carro sem conhecer ninguém. As pessoas precisam se conhecer melhor no Morumbi.” Defende ainda: “Também precisam cobrar investigação do Estado”.
OLHO NA RUA
Outra proposta apresentada pela Samovis é permitir que o vigia “espie” não só as áreas internas do edifício em que trabalha, mas, principalmente, o lado de fora.
Com 22 prédios, a rua José Galante serviu de “laboratório” do projeto. As câmeras seriam alugadas, com uma despesa de R$ 300 por mês para cada condomínio, calcula Jorge Eduardo de Souza, presidente da Samovis.
Os Consegs e a Samovis querem ainda ampliar os cursos oferecidos por policiais militares a moradores e funcionários dos condomínios.
Um dos propósitos é “detectar elementos estranhos”. Antes de liberar a entrada de um funcionário de serviço público, por exemplo, o porteiro ligaria para certificar-se de que ele de fato trabalha para a empresa em questão.
Fonte: Folha.com