No Arte/Cidade 3 de 1997, em São Paulo, José Spaniol criou um cubo de terra batida, o Mirante para se ver a fábrica Matarazzo ao longe. Agora, o artista retoma esse material na obra Tímpano, que ele inaugura neste sábado (20), a partir das 15 horas, na Capela do Morumbi. Spaniol concebeu especialmente para o local (site specific) um cilindro com paredes de 25 centímetros de taipa, com quatro metros de altura por quatro metros de diâmetro. A obra, de certa forma monumental, ganha um sentido especial na Capela do Morumbi com suas paredes também de terra: mimetiza-se e confronta-se com o espaço; faz com que o observador se movimente entre o jogo de epidermes terrosas.
No ano passado, em visita ao local, uma das unidades do Museu da Cidade, da Prefeitura de São Paulo, Spaniol teve a ideia de fazer uma obra de terra para aquele lugar. “Meu trabalho é muito ligado à matéria e ele depende do meio e do local”, diz o artista, que cria em vertente eclética que abarca a gravura, a escultura – e até o pictórico. A Capela é um espaço pequeno, que pertencia à antiga Fazenda do Morumbi – um documento encontrado, segundo texto de apresentação do local, data de 1825.
Na década de 1940 ela foi reconstruída pelo escritório do arquiteto Gregori Warchavchik a partir de suas ruínas de taipa e ganhou também partes de tijolos e afrescos feitos pela pintora Lúcia Suanê. Na gestão atual de Inês Raphaelian, a Capela tem apresentado mostras/obras de arte contemporânea. “Tímpano”, de Spaniol, tem como mote principal para seu encantamento o fato de “a terra estar de pé”, como diz o artista “Existe essa surpresa, porque terra é um signo horizontal, por onde andamos com nossos pés.” Ele conta que a obra é uma espécie também de trabalho de conclusão de sua tese de doutorado na USP, intitulada “Verticalidade e Espelhamento” e que trata de sua própria criação artística.
Outra característica curiosa dessa obra é o mote de seu título: a palavra “tímpano” se refere a sino ou tambor. Foi da forma cilíndrica que surgiu seu nome e é interessante o fato de o observador, quando adentra a obra por uma abertura e se instala em seu centro, poder emitir um som que daquele lugar reverbera. “Nesse momento você ocupa o espaço e percebe também o espaço de seu corpo”, diz o artista. “Tímpano”, também, é um termo arquitetônico, que se refere à área entre a parede e o telhado da fachada de uma construção onde, em tempos mais remotos, se colocava o ornamento. “É uma área de transição, uma sobra das ações, onde a arte vai se instalar”, vai definindo Spaniol.
De qualquer maneira, sua obra – cuja forma e monumentalidade inevitavelmente faz remeter às esculturas do americano Richard Serra – concatena um jogo interessante entre a vontade de ser neutra (por ser de terra, tal como as paredes do local) e marcar sua presença.
“Tímpano – José Spaniol” – Capela do Morumbi – Avenida Morumbi, 5.387, 11 3772-4301 9h/ 17h (fecha 2.ª) – Grátis – Até 22/11 – Abertura sábado (20), às 15 horas.