A pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgada nesta quarta-feira (21) revela que Paraisópolis é a favela com o maior número de habitantes em São Paulo, com 42,8 mil moradores em mais de 13 mil domicílios ocupados. Heliópolis aparece com 41,1 mil moradores em 12,1 mil domicílios. Apesar de obras de urbanização estarem em curso, algumas pessoas que vivem em Paraisópolis, localizada no bairro Morumbi, na Zona Sul de São Paulo, ainda sofrem com falta de rede de esgoto e de energia elétrica.
Enquanto 94,7% dos domicílios em áreas regulares de São Paulo têm esgotamento sanitário adequado, apenas 68,4% dos domicílios nos aglomerados subnormais (favelas e similares, segundo definição do IBGE) apresentam o serviço de maneira apropriada. Moradora de Paraisópolis há 40 anos, a ajudante Cecília Maria da Conceição, de 54 anos, diz que o esgoto de sua casa é jogado diretamente em um córrego que passa em frente ao imóvel. “Fica um cheiro horrível”, reclama.
A casa tem um muro para conter a entrada da água. “Qualquer chuva que dá, enche aqui”, conta. Cecília diz que está com um problema na perna direita provocado pelo contato com a água suja. “O médico disse que tive sorte de não ter perdido a perna”, afirma. Ela vive na residência com o marido, cinco filhos e o neto e diz que coloca as crianças no alto da beliche quando chove muito. “Eu queria sair dessa casa, mas da comunidade, não.”
O presidente da União dos Moradores de Paraisópolis, Gilson Rodrigues, diz que ainda há problemas em algumas áreas básicas. “Tem problema de infraestrutura, mas a gente acha que, com o avanço da urbanização, vai resolver”, afirma, acrescentando que há investimentos nas esferas municipal, estadual e federal na região para solucionar as questões. “Saneamento é um problema grande, mas a gente vê que será resolvido.”
Segundo a Sabesp, o total de investimentos na criação de redes de esgotos entre 2008 e 2011 em Paraisópolis foi de R$ 8,7 milhões. O valor faz parte do programa de reurbanização da favela. Até 2012, o programa prevê um investimento total de R$ 16 milhões na criação de 36 km de novas redes de esgoto – incluindo o montante já gasto entre 2008 e 2011.
Ligação clandestina
A energia elétrica chega à residência da dona de casa Graziela Maria da Silva, de 26 anos, em Paraisópolis, por meio do chamado “gato”, uma ligação clandestina. “É tudo gato. O poste fica lá atrás. Quando chove, cai um fio lá e pega fogo em quase tudo. É horrível. Às vezes não tem ninguém para consertar e a gente fica muito tempo sem luz. Já fiquei dois meses”, lembra. A solução é colocar os mantimentos na geladeira dos vizinhos e viver no escuro. A pesquisa do IBGE mostra que, em São Paulo, 87,6% dos domicílios em áreas regulares têm energia elétrica adequada, contra 65,9% nos aglomerados subnormais.
Graziela conta que já perdeu aparelhos eletrônicos por causa da ligação irregular e teme pela segurança. “Há vezes que junta um fio no outro e pega fogo. Esses dias, senti cheiro de queimado e vi o fogo perto da minha janela”, conta. A mãe de três filhos afirma que prefere que essa situação seja regularizada. “Se fosse para pagar, a gente pagava sossegado”, garante ela, que tem ligação de água e esgoto em sua residência.
O presidente da União dos Moradores diz que já existe um projeto grande da Eletropaulo para regularizar essa situação na comunidade. Segundo a empresa, o programa de Transformação de Consumidores em Clientes visa a regularização de ligações em comunidades de baixa renda. Dentro deste programa, foram distribuídos recentemente em Paraisópolis chuveiros econômicos para reduzir o valor da fatura das famílias.
Dados da pesquisa
O IBGE diz em seu estudo que, em São Paulo, há predomínio de áreas com aglomerados subnormais de pequeno porte. Os maiores são Paraisópolis (com 13.071 domicílios ocupados) e Heliópolis (com 12.105 domicílios ocupados). Em geral, as favelas são distantes da região central e se localizam, principalmente, nas regiões Sul, Norte – junto à Serra da Cantareira – e próximas aos limites com os municípios de Guarulhos, Ferraz de Vasconcelos e Mauá.
O presidente da União dos Moradores de Paraisópolis acredita, no entanto, que o número de habitantes da favela pode ser bem maior. Ele cita que, em um cadastro realizado entre 2004 e 2005, havia cerca de 17 mil domicílios. “O número de casas tem aumentado”, afirma. A favela ocupa, segundo a associação, uma área de 1 milhão de metros quadrados.
Gilson Rodrigues afirma que os dois principais problemas da comunidade são saúde e educação. “Precisamos que seja construído um hospital aqui. Se tivesse um hospital em Paraisópolis, salvaria muitas vidas”, diz ele, acrescentando que as ambulâncias também têm dificuldade para chegar à favela. O presidente da associação também pede mais equipamentos públicos para educação. “Temos quase 5 mil crianças fora da escola.”
A perspectiva dele para o futuro de Paraisópolis é positiva. “Tem muita coisa planejada até 2014, então é ver se a urbanização será concluída e garantir que a favela possa se transformar em um bairro. A gente está criando esse conceito de uma nova comunidade.”
Fonte: G1